Diamonds Are Forever


Sean Connery morreu.
Não quero conversa.
Não liguem para mim,
não escrevam mensagens,
não cobrem o Netflix.
Não toquem a campainha,
não batam à porta,
não venham entregar o edredom lavado.

Connery não tinha a menor importância para a ordem geral das coisas.
Mas aconteceu de ele ser o último pedregulho que me ligava ao século 20.
Sua morte precipitou uma avalanche que invade
e soterra
minha ordem afetiva com o mundo.

Finding Forrester, de Gus van Sant, 2000

Ele foi Salinger em Finding Forrester –
contra a proibição de Salinger de usarem sua obra no cinema.
Um escritor recluso
é o que à época este homem aqui
aspirava a ser,
não fossem as dores. E as contas.

A vida de Salinger dorme na minha cabeceira, se equilibra numa montanha desastrada de livros que existe para desabar de madrugada. E que desabou.

Me desapego do mundo agora.
O gatilho do insuportável é meu.
Está claro que a vida tem licença para matar,
mas nenhuma elegância ao fazê-lo.
A contragosto, vou tomar um banho
escovar os dentes
e comer um lanche besta.
Não, não vou me matar: seria o triunfo da vaidade sobre o fracasso dos viventes.
O mundo é que morreu mais do que podia esta semana.
Não tolero abusos. Nem da morte.

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