Pardon, Simone

simonedebeauvoir505_112912031304_0 Pourquois moi?

O ENEM de 2015 demonstra que o analfabetismo funcional não atinge apenas os estudantes, mas a Nação inteira.

É constrangedor ver a quantidade de gente que não consegue interpretar um texto.

Um povo que não consegue distinguir “sentido denotativo” de “sentido conotativo” num texto é um povo funcionalmente analfabeto.

E povo, aqui, não é usado no sentido conotativo de “gente pobre”, “gente humilde”; povo, aqui, é usado no sentido denotativo de “conjunto de pessoas ligadas por laços territoriais, culturais ou religiosos”.

Ou seja, o povo brasileiro, nós todos, somos incapazes de discutir um texto a partir do sentido que esse texto tenha ou possa ter.

É constrangedor ver a quantidade de gente que acredita que, na citação feita a obra sua no ENEM, Simone de Beauvoir renegava a genitália como elemento de distinção entre homem e mulher.

É constrangedor ver que o texto de Simone de Beauvoir foi interpretado como se referido ao debate sobre homossexualidade.

Como hoje é sábado e segunda é feriado, lá vai:

Antes de tudo: pronuncia-se “Bovoárr”.

Agora, ao texto.

Beauvoir não fala ali de homossexualidade.

Beauvoir não fala ali que a sexualidade é algo que se escolhe ou que, ao contrário, é algo que não se escolhe.

Beauvoir não fala ali que ninguém nasce com o sexo ou a sexualidade definido ou indefinido.

Beauvoir não fala ali de opção sexual.

Beauvoir ali está falando disto e só disto: do papel social imposto à mulher.

Quando Beauvoir diz que “ninguém nasce mulher”, ela quer dizer que ninguém nasce sendo o que a sociedade espera que seja o papel de uma mulher:

*ninguém nasce submisso;
*ninguém nasce para cuidar da casa;
*ninguém nasce para casar, ter filhos e dedicar-se exclusivamente a isso;
*ninguém nasce para ganhar menos do que os outros só por ser homem ou só por ser mulher.

Ao dizer que “ninguém nasce mulher”, Beauvoir está afirmando que de ninguém se pode exigir desde o nascimento que faça isto ou aquilo, assim ou assado, apenas por ter nascido com este ou aquele sexo.

Ela quer dizer que uma mulher tem a liberdade de decidir:

*se quer ou não se casar,
*se quer ou não ter filhos, se quer ou não ter uma casa,
*se quer ou não cuidar dessa casa ou de qualquer outra casa,
*se quer ou não estudar, trabalhar, ir pelo mundo afora,
*se quer aprender a cozinhar,
*se quer cozinhar em casa ou num grande restaurante – ou até mesmo num pequeno restaurante, ou
* se prefere assistir TV comendo pipoca de pantufas num sábado de carnaval.

O debate que cabe aqui, portanto, é sobre o valor que a nossa sociedade dá ou pretende dar à ideia de que cabe ao homem e à mulher papéis na sociedade que são específicos e determinados de antemão.

Querem debater sobre o que Beauvoir realmente quis dizer?

Caio Leonardo

31 de outubro de 2015

A COPA É DO MUNDO!

A COPA É DO MUNDO!

Acabou a repressão. A festa está nas ruas. O mundo a trouxe de fora e o brasileiro foi lembrado de quem é e do que gosta.

A Copa é do Mundo. A apropriação dela pela FIFA e as consequências disso devem ser criticadas, sim. No entanto, não existe movimento global de congraçamento, movimento civilizatório mesmo, que chegue perto do que é a Copa, que é do Mundo.

Vou ver Equador x Suíça. Brasília está coalhada de estrangeiros. Vou ver a festa. O jogo pouco importa. Aprendi isso no voo que peguei segunda-feira (9.6) de Paris para Brasília. Gente do mundo todo no avião, vindo para a Copa que é, Vocês sabem, do Mundo. Atrás de mim, dois ingleses de origem indiana. Vinham para ver… Suíça x Equador.

Tenho direito a acompanhante, coisas de quem rola por aí numa nave espacial. Perguntei à turma do escritório quem queria ir. Diogo Karl é quem vai comigo.

Vamos com autorização para estacionamento especial no vidro do carro. Se me preocupo se vão vandalizar meu carro? Não. É só um carro.

Ninguém vai me reprimir, ninguém vai reprimir minha vontade de participar do maior congraçamento da humanidade.

E vai ser lindo ver uma multidão de suíços e uma multidão de equatorianos como protagonistas da mesma festa. Onde mais isto aconteceria? Onde dois países tão completamente diferentes em todos os sentidos estariam juntos para festejar?

E recebidos por uma multidão de brasileiros, com a participação de ingleses, paquistaneses, angolanos, alemães, italianos.

E com 3 bilhões de pessoas assistindo!

E, no meio disso tudo, num estádio lindo, na Brasília onde moro (e que, 7 anos atrás, exibia um estádio de paróquia), lá estarei eu. E o Diogo Karl.