
Caiu minha orelha,
o nariz que tava aqui
fugiu de caolho.
A boca que ri,
riu tanto que despencou
do pescoço ao chão.
Meu rosto é o retrato
do outono do desalento:
triste, torto e trágico.
Ter teto trazia
alento. Ter sombra, alívio.
Ter hoje é terrível.
Eu, o que era antes,
descaio de mim. Eu, farto,
não como nem quando –
nem lembro onde pus
o meu último sapato:
Não piso na rua,
nem olho pra ela:
perdi a conta das f(r)ases
ai, língua minguante…
Matar as saudades?
Aquela máscara negra
esconde o teu rosto.
Vou deixar-me agora
sobre o leito de Procusto,
que mede e devora.
Caio Leonardo
Aos 27 do abril destes 2020
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