Ter apenas um assunto,
e esse assunto ser variações
sobre agressões a uma pessoa,
revela uma vida triste e encerrada,
consumida pelas próprias frustrações
transferidas na forma de ódio
àquele objeto
– àquele ser humano tornado objeto
pelo ressentimento e
pelo vazio existencial
a que se resume o que sobra de vida
àquele que tem apenas um assunto.
Passa da hora de libertar a mente
e o corpo dessa armadilha.
Não peço que mude de ideia,
mas que mude de assunto.
Abra outras caixinhas do universo.
Descubra o padre que descobriu o Tibet
(sim, isso aconteceu),
mergulhe
em mapas de lugares imaginários,
passeie
pelo Pantanal de Manoel de Barros,
cavalgue com o verdadeiro Genghis Khan,
o autor da modernidade,
penetre
a leveza sublime dos versos de Rumi,
mergulhe
no sono, ouvindo Roberta Flack –
_The First Time Ever I Saw Your Face_,
corra
9Km num parque que não conhece
e repare nas árvores.
Leia A Vida Secreta das Árvores
e A Vida Íntima dos Animais,
traga
para casa frutas e legumes
que nunca provou,
entre
no zoológico na volta do almoço
e avise
seus sócios de que vai se atrasar:
__ Estou em reunião com um unicórnio chinês. Ainda é segredo.
E, então, estenda o braço e sorria
para a Girafa:
Ela perdeu o parceiro ano passado.
caio leonardo, 11 de fevereiro de
2019