Uma única vez, estive no escritório do prof. Fabio Konder Comparato, de quem tinha sido aluno. O assunto não era acadêmico – ele nunca teria tido motivo para me receber por algo do gênero. Estava lá, com gente grande, para pedir-lhe um parecer.
A uma certa altura, uma personagem foi citada, não me lembro qual, e ele então comentou, não com a gravidade que o define, mas com uma expressão entre tristeza e pânico:
__ Com ele aconteceu o que não desejaria para o meu pior inimigo: Ele perdeu o filho.
Década de ‘90. Foi nesta cena que comecei a me dar conta da dor dos meus próprios pais com o que aconteceu a mim mesmo, aos 22 anos.
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Drummond perdeu a filha, Julieta, a pessoa que mais amou em sua vida. Morreu uma semana depois, de tristeza.
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Pedaço de Mim
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Chico Buarque
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perfeito texto
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