
_ A mamãe te mostrou ou você viu?
_ Sua mãe mostrou a foto no carro.
_ Então, você não viu.
Maitê traz os óculos de coração
vermelhos
que ganhou na Feira do Paraguai
e Pedro prova os amarelos
ovais
que se entediavam sobre Sebastião Salgado no aparador da entrada.
Passos animados invadem a varanda.
O sol desenha nuvens amarelas vermelhas (infantis)
e prateadas
cinzas-escuro, como as volutas dos meus cabelos
longos de isolamento.
As cores se espalham
dramaticamente
por todo o horizonte
enquanto o sol se põe detrás de outros vizinhos
do lado de lá da serpente de pedras portuguesas
que rebola do Sul para o Norte
entre espelhos d’água,
palmeiras esparsas e outras complacências.
_ Um beija-flor mora aqui embaixo, Pedro.
_ É?
Ele encontra a pequena lanterna de ferro cor de jade
sobre a mesa de tampo de junco esturricado pela seca.
Os vermelhos os amarelos as linhas prateadas
mergulham devagar.
_ Hora de deixar o tio Caio descansar.
(Nunca vou me cansar. Nunca vou descansar)
_ Tio Caio, me mostra?, Pedro aponta para o microscópio, que está quebrado.
Pedro quer olhar pelo microscópio quebrado.
Pego a peça pesada
desço à altura dos olhos dele.
_ Não dá pra ver nada.
_ Tá quebrado.
Fico imaginando a frustração de olhar por um microscópio
de mais de cem anos de idade
aos quatro anos de idade
e não enxergar um mundo mais fascinante
do que o do caleidoscópio
que ficou na varanda
sobre o sofá redondo, agora sem luz.