Adágio em Sol Menor

Preciso de pouco.

A vida é que tem me dado muito.

Minha alma cabe

sem esforço,

ainda que comprimida,

nesse cantinho estreito

embora ensolarado

entre Barcelona

e Saint Paul de Vence;

mas também se vira

entre Juquehy

e Paraty;

e aceita

sem relutar

um chão duro qualquer

tendo como travesseiro

dois Hemingways e um Cortázar.

Para me cobrir,

basta um Capote.

E se um dia

nem mais ler eu puder,

que me encontre recostado

entre damas-da-noite,

– as memórias me bastarão.

Mas quando nem mesmo

a memória me sobrar,

então que o acaso faça chover

sobre mim em São Vicente,

que a chuva de lá sempre foi

e sempre será

o meu mais suave acalanto.

Ela bastará,

garoa ou tempestade,

quando eu não saiba mais de mim.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s