Poder dizer, e dizer, “não” a si mesmo é uma forma elevada de liberdade.
Dizer sempre “sim” a si mesmo é uma forma primária de sujeição.
A ideia de ser livre todo o tempo é a negação da própria liberdade, porque prende a pessoa à obrigação de não decidir, de não fazer escolha. Liberdade ou é escolher ou não é nada. E escolher é decidir. Decidir dói. Fecha portas, dá rumo, define trajetórias, impossibilita outros destinos.
Ser livre dói. Não ser livre dói mais. Não escolher é nunca vir a ser. Não decidir é não realizar. Ficar entre o sim e o não é não viver.
Não decidir é sair de Brasília e pegar a estrada errada para Alto Paraíso e só dizer não a si mesmo quase chegando a Posse. Decidir é saber que é preciso voltar e voltar e voltar, mesmo que isso seja uma grande humilhação, voltar e voltar até começar tudo de novo, desde Planaltina. Quem não define o x da questão viaja em Y. Sim, seguir pela estrada errada teria aberto muitas possibilidades, mas não teria dado na gargalhada da Patrícia, quando me viu entrar no quarto, às 4 da manhã, dez horas depois do esperado: a gargalhada transformou uma inconveniência numa aventura; seguir reto teria transformado uma aventura numa inconveniência? A escolha foi feita. Nunca saberei – mas sei o bem que me faz a história ter terminado nos braços e nas gargalhadas da Patricia .
Liberdade é escolha. Há grandes escolhas em jogo em 2020. Duas delas são imensas: a de dizer não a si mesmo e a de dizer não à tentação de nada fazer. Ficar entre o sim e o não é não viver. Dizer não a si mesmo é ficar em casa. Ou não. Escolher é tirar esse cara da frente. Ou não.