A mosca varejeira entrou pela biblioteca –
mais um parágrafo
e a angústia acabava.
A mosca varejeira descobriu minha presença –
o parágrafo ficou mais distante.
A mosca varejeira decidiu pelo meu cabelo –
a angústia se esgotou em raiva.
A mosca varejeira faz um barulho danado,
não demorou e já era o bicho nocivo da casa velha, lá em São Vicente.
Inimiga antiga.
A mosca varejeira que fazia um barulho danado levou um voleio da edição de bolso das Selected Short Stories de Guy de Maupassant.
E aquele parágrafo morreu ali, abatido pela dúvida insondável:
O que ela queria?
Talvez, que eu lhe abrisse a janela
ou lhe desse atenção – sua vida são sete dias
sem companhia; eu, que passei
tantas vezes sete dias sem companhia,
não me importo. Mas e ela?
Uma vida adulta que começou pela cópula
e se estendeu pelo nada. A dela. Ou a minha?
Sua vida foi voar, zumbir,
pertubar um sujeito angustiado, quieto no seu canto e que procurava palavras.
Nunca uma banana. Nunca o gosto ainda fresco de iogurte grego na lâmina de alumínio.
A mosca varejeira agora é aquela angústia que saiu do parágrafo e foi impressa,
como mancha,
na topo da capa amarela, debaixo do pé do pinguim.
……….
Caio Leonardo