O Brasil da folia
desapareceu
como o riso diante do susto.
Como a gargalhada depois
do gancho de direita
Como o passeio de fim de tarde –
no alto da curva da pandemia.
O Brasil da folia
desapareceu
como o riso diante do susto.
Como a gargalhada depois
do gancho de direita
Como o passeio de fim de tarde –
no alto da curva da pandemia.
Caiu minha orelha,
o nariz que tava aqui
fugiu de caolho.
A boca que ri,
riu tanto que despencou
do pescoço ao chão.
Meu rosto é o retrato
do outono do desalento:
triste, torto e trágico.
Ter teto trazia
alento. Ter sombra, alívio.
Ter hoje é terrível.
Eu, o que era antes,
descaio de mim. Eu, farto,
não como nem quando –
nem lembro onde pus
o meu último sapato:
Não piso na rua,
nem olho pra ela:
perdi a conta das f(r)ases
ai, língua minguante…
Matar as saudades?
Aquela máscara negra
esconde o teu rosto.
Vou deixar-me agora
sobre o leito de Procusto,
que mede e devora.
Caio Leonardo
Aos 27 do abril destes 2020
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Os EUA, a Rússia e, entre outros da recente onda nacionalista/conservadora, o Brasil, têm governos que são contra a prevalência de organismos internacionais sobre a soberania nacional – o tal fim do globalismo.
A China defende esses organismos internacionais, e mais: defende uma cooperação internacional em larga escala, como com seu projeto Belt and Road.
Os EUA e a Europa estão assistindo à sua decadência diante de uma China portentosa e imparável.
A Rússia vem trabalhando para desarticular OTAN, União Europeia e afundar os EUA. Com sucesso, haja vista seu papel no Brexit, na eleição de Trump e no posicionamento de Trump contra organismos internacionais, aí incluída a OTAN.
O plano da Rússia é o de instauração de uma Eurásia, de Vladivostok a Lisboa, nas palavras de Putin, em defesa da civilização cristã-sionista conservadora, nas palavras de Bannon.
O Plano da China é integrar o mundo para servir aos seus canais de comércio.
O Plano dos EUA muda a cada segundo, com sanções disparadas contra aliados, ex-aliados e inimigos; sem recursos para manter botas no chão e navios pelo mundo todo.
Nesse contexto, surge o coronavírus.
Cepa que surgiu na China e que a China soube conter, porque decide planejadamente e de cima para baixo.
O resto do mundo não decide assim: seus governos batem cabeça, a população quer, cada um, que a sua ideia de combate ao vírus prevaleça, essa coisa toda.
Pandemia foi prevista por várias vozes relevantes no cenário internacional, a não menos relevante tendo sido Bill Gates.
Agora, surgem vozes cobrando a China pela pandemia e a OMS, por não cobrar de Pequim a responsabilidade pela pandemia.
O recado estava dado? Quem não se preparou como governo errou? Alguma autoridade nacional de saúde não foi alertada para o risco? Quem está errado? De quem é a culpa?
Todas essas questões emperram a tomada de decisão necessária, enquanto a China segue firme para a recuperação de sua economia já no fim do segundo trimestre, e o mundo desaba para além da Grande Muralha.
Só há espaço, na vida pessoal, para o cuidado de si, de quem está perto e, na extensão das capacidades de cada um, de quem está longe.
Só há espaço para se dar atenção a vozes e lideranças que mostrem respostas, soluções e norte.
Tudo o mais que se está discutindo no ambiente político é contingente, baixo e não interessa à população neste momento em que todos nós mais precisamos de Estado presente e atuante para equilibrar o impacto de uma crise concreta, real e incontornável.
O que interessa é como vamos comer e onde vamos dormir. Como a comida chegará a cada um de nós e como o teto será garantido. Como estaremos protegidos e o que podemos fazer para a proteção do outro.
O empresário e o empreendedor cuidam do seu negócio. Uma crise como esta extrapola a capacidade de ação de todo e qualquer negócio ou empreendimento. É para uma crise como esta que existe o Estado:
1) para informar a população sobre os riscos que corre, sobre em que estágio da pandemia se está, sobre o que está por vir e sobre como agir individual e coletivamente;
2) para tratar da população afetada, com todos os recursos de que dispuser e que puder mobilizar: não é hora de pensar na conta, a conta será paga por gerações que só existirão e progredirão, se esta geração sobreviver e superar esta crise;
3) para estudar e buscar solução para a pandemia; e aplicar essa solução em larga escala o mais rápido possível;
4) para alocar recursos de forma eficiente e capaz de responder aos desafios da crise para além da saúde: produção, distribuição e consumo de alimentos e bebidas; higiene pessoal e limpeza doméstica; teto e atenção a todos; reorganização do trabalho; reorganização da família, reorganização da logística das relações de troca;
5) para organizar e adaptar as forças produtivas em torno do bem comum, em especial, da contenção da pandemia: ponderar, adotar, avaliar, subvencionar, financiar e rever ações como isolamento, lockdown, protocolos de higiene e proteção, e plano de retomada gradual da vida no espaço público e no mundo do trabalho;
6) para sustentar empresas, empreendedores, trabalhadores e pessoas fora do mercado de trabalho, enquanto não seja possível retornar à dinâmica de mercado;
7) para oferecer segurança e ordem num momento em que ausentar-se, isolar-se é um ato cívico, humanitário, histórico.
Quem quer que esteja na esfera pública (fora da família e da empresa, dentro do Estado) deve estar ocupando o tempo dele/dela e o meu/seu com uma dessas sete finalidades.
Qualquer autoridade pública que desvie energia nesta hora não devia estar em posição de comando.
2020 é um ano para os grandes homens e para as grandes mulheres servirem a algo maior do que seus projetos pessoais.
2020 é o ano da Política entendida como a arte maior de pensar e construir o futuro.
Quem não tiver grandeza nem visão de futuro para o Brasil e para a humanidade, então que faça sua parte e isole-se.
O álcool. E a máscara.
O que era margem hoje é prece:
o ácool e a máscara.