Uma Terrena Comédia

Toda alma que cala e é covarde,

bem aquém do Aqueronte, como arde!

no primeiro dos círculos do inferno.

O braseiro – que brida quem tiver no

seu poder o dizer que chega o inverno –

ele queima a quem dói saber que ouviu –

por ouvir, mas fingir que não ouviu –

o gemido tão tétrico e sutil

de uma voz que se engasga ao perguntar:

o que queres do mundo, meu Brasil?

O Futuro é Aqui

“O Futuro Chegou”, de Domenico de Masi, termina com um capítulo sobre o Brasil, país que ele dá como exemplo, para o MUNDO, de sociedade do futuro, por ser tolerante e solidária.

Vim abraçar vocês e dizer que o futuro não vai nos abandonar. O destino é feito de sorte e virtude, disse um filósofo. A sorte está lançada. A gente vai ter a virtude de fazer com que nosso destino seja o de manter alto o exemplo de sociedade em reconstrução pela solidariedade e o olhar atento para esse brasileiro e essa brasileira ao seu lado, ao longe, onde for, como for. Ninguém vai ser esquecido.

O Brasil não vai se tornar as Filipinas de um Rodrigo Duterte. Pesquisem sobre Rodrigo Duterte, antes que seja tarde. Antes de domingo.

Não vamos nos tornar um fracasso civilizacional depois de termos nos inventado tão lindamente.

Moro num país tropical. E aqui minha gente é alegre e amorosa, mesmo diante da sua história de adversidades.

Ser patriota, no Brasil, tenho certeza de que você se lembra: é ser samba e batucada, beijo na boca e imaginação, cultura do abraço e da mão estendida.

Ser patriota é viver Manuel de Barros, entender Guimarães Rosa (quem mais pode entendê-lo, senão um veraz brasileiro?).

O ser-tão brasileiro é o amor por Diadorim; não o diabo no meio da rua, no redemunho.

Ser brasileiro é chorar diante da miséria da mãe brasileira; é se alegrar com a chegada do amigo; é saber – e como já cansou repetir isto : é saber o que é saudade. É ficar orgulhoso de ver que a menina da periferia foi para Harvard e agora é deputada federal. A mais bela notícia destas eleições.

O nome destas eleições é Tábata Amaral. A novidade é ela. A redenção é ela. Ela é o sinal do futuro. Ela, não ele. Ele, não.

O Brasil é brasileiro hoje e sempre. Este fim de semana, a brasileira vai sorrir docemente para o brasileiro, o ilustre passageiro verá o belo tipo faceiro que ele tem ao seu lado. E não vai acreditar que ele quase morreu de bronquite.

Este domingo é pra gente encher a cara de Rhum Creosotado, num reencontro curativo depois destes anos e dias de sentimento tão pouco nosso.

Porque nós vamos voltar a nos olhar com carinho e divertidamente este fim de semana.

Você e eu vamos ser o brasileiro e a brasileira que a Constituição descreve no seu artigo 3°: esta gente que existe como república para construir uma sociedade livre, justa e solidária.

Solidária. Livre, justa e solidária.

Livre.

Justa.

E solidária

Amorosa. Gregária. A sociedade do tamo junto. Uma sociedade alegre como não há outra no mundo.

Nós nos viramos – um pelo outro. Não viro as costas a ninguém. É antipatriótico. Não é brasileiro. Não é coisa da gente.

Todas as cartas de amor são ridículas, esclareceu o poeta. Esta é uma ridícula carta de amor a você.

Que este domingo você vá me encontrar por entre automóveis, ruas e avenidas, milhões de buzinas tocando sem cessar.

Que você venha toda de branco, toda molhada e despenteada, que maravilha, que coisa linda que é o meu amor.

Domingo, a gente se beija.

ANOTAÇOES PARA O SETE DE OUTUBRO

“… as they sink,

Donward to darkness, on extended wings”

Wallace Stevens, Sunday Morning

Eleições põem pessoas no poder não para acertar contas com o passado, porque essa é a atribuição dos tribunais. Os tribunais têm trabalhado muito estes anos e vão continuar trabalhando para fazer a justiça pela qual todos gritamos.

Eleições servem para outra coisa: Dar rumo e direção para o futuro.

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Política é uma arte. Precisamos recuperar a dimensão de arte da política.

Uma decisão política é uma obra de arte quando todos entendem por que aquela é a melhor solução possível – e a aceitam como solução e como rumo para todos.

A arte da política é a de

    entender os problemas da sua gente e da sua terra
    estabelecer prioridades
    buscar soluções
    aproximar quem pensa diferente para afinar as soluções
    construir entendimentos
    fazer a solução encontrada ser eficiente e eficaz com o apoio de quem é afetado por ela
    acompanhar sua execução constantemente para (i) avaliar resultados e (ii) aperfeiçoar o modelo.

A política feita assim é a mais nobre arte. Precisamos aprendê-la e vivenciá-la.

Para que essa arte da política funcione é preciso que o cidadão (você, eu) acompanhe, compreenda, opine e interfira nas decisões tomadas por aqueles que seu voto elege.

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O melhor político é o que ouve e une de tal forma que não precisa usar sua autoridade.

O melhor político ouve antes de falar, e seu comando é uma ordem que veio de todos os que foram ouvidos

Quando todos são ouvidos e chegam ao consenso possível sobre determinado problema, o comando e a autoridade vêm de todos.

Política não é o exercício da autoridade.

Política não deve ser reduzida a comando e controle.

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A política é a arte de olhar para o futuro.

Vingança não é futuro. Vingança é um tormento do passado. O Brasil é um país atormentado pelo seu passado e incapaz de enxergar que há quem esteja lhe oferecendo um caminho para o futuro.

Futuro não se constrói com revanche nem com a entrega do poder a quem diz que vai resolver tudo à bala.

É um erro votar em quem pode fechar as portas ao diálogo e à colaboração na construção de respostas.

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O brasileiro precisa voltar a se ver como parte de um povo que se quer bem, que quer o bem do seu conterrâneo. O brasileiro precisa voltar a amar a sua terra e a sua gente.

O Brasil precisa de compaixão, que é saber sentir a dor do outro e querer o melhor para si e para o outro.

Cuidemos de celebrar e alimentar as delícias de ser brasileiro; e a de manter um olhar atento a quem está afastado das delícias de ser brasileiro.

Amanhã, vote em quem respeite a cultura da alegria que define o brasileiro; vote em quem se preparou e tem a oferecer uma visão de futuro para o País.