Como Esperar Sentado na Toscana

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O voo Florença-Paris tinha sido cancelado. A companhia aérea decidiu embarcar os passageiros por Pisa. Todos foram transportados de uma cidade a outra de ônibus. Todos, menos um. O ônibus não era acessível.

Tentaram uma van. Demonstrei, meio descadeirado, que tampouco. Sorrisos, lamentos. Que esperasse. Esperei.

Esperei tanto, que achei que tivessem desistido de mim. Não estranharia.

Dividindo comigo o latifúndio que era o estacionamento deserto, uma banda de rock se entediava a dois tropeços de mim. Eram quatro, cara de atropelados pela noite, sentados sobre caixas de som, instrumentos, coisas de saltimbancos. Não sei se chegavam ou se partiam. Esperávamos. Três desembarques depois, já éramos uma família – dessas em que ninguém conversa com ninguém.

Eu estava tranquilo, sei esperar, de alguma forma iam resolver aquilo. Um tailleur verde-claro vinha falar comigo, lamentava a demora, eu respondia com um sorriso: Não tenho pressa. E os saltos altos iam de volta. Surgia um quepe com crachá, soprava um Scusi… E sumia.

A banda, no seu silêncio de Sepultura, talvez competisse comigo para ver quem escapava primeiro do estacionamento que estava de novo vazio. Batia um vento surdo quando o Jaguar ultrapassou a cancela distante e deu uma volta solene pelo pátio.

Rock stars, pensei.

O Jaguar passou pelo embarque, pelo desembarque, se aproximou e parou diante de…mim. Esta era a hora em que uma baqueta podia ter caído no chão. O tailleur e o quepe se perfilaram. Ele se adiantou, abriu a porta, sorriu e me convidou a entrar.

Virei para os roqueiros, que riam desestrelados, e lhes disse, rindo ainda mais:

__ This is how you lose a flight.

 

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