Da Indignação ao Ridículo

A indignação baseada na intolerância e nessa sua rima insolúvel, a ignorância, resulta no ridículo.

O Brasil não está perdido: o trabalho de arrumar a casa é que é longo, cansativo e cheio de obstáculos. Quem olha o Brasil de dentro da floresta só vê o cipoal, não enxerga a vereda, o caminho que está sendo trilhado. Um caminho doloroso, espinhoso, mas que precisa ser trilhado.

Esquece que nunca ninguém sequer foi julgado, como está sendo, no STF.

Esquece que, por nunca ter sido julgado, ninguém jamais havia sido condenado antes. Agora temos condenação.

Pior do que esquecer, ignora que os tais embargos infringentes não querem dizer impunidade, que seu alcance é muito restrito e que seu acolhimento colocou o Brasil num patamar de civilização que, bem, que o brasileiro médio ainda não alcançou. O brasileiro médio ainda quer a barbárie, a tocha na mão, o esquadrão da morte.

Esquece que julgamento não é jogo de futebol, 90 minutos e acaba. Julgamento tem rito e envolve respeito a direitos: uma garantia para todos. Esquece que esses direitos não valiam de nada há até bem pouco tempo: agora, valem. E é para valerem, mesmo.

Ignora o que é viver num País civilizado, porque nunca viveu num antes: o Brasil sempre foi um fim de mundo. Para tornar-se civilizado, é preciso fazer valer a lei. E é isso que está acontecendo agora. Ser civilizado dói. Exige postura e retidão. E quem aí cuida de postura e retidão? Quem aí teve compostura na sua reação à decisão do STF?

O Brasil está mudando. Crescendo. O Brasil tem apenas 25 anos. O Brasil nasceu em 1988, com a nova Constituição. É um sujeito que acabou de sair da adolescência, está entrando na fase adulta, tem cabeça de menino e corpo de homem, cheio de energia, cheio de razão, mas ainda não sabe nada da vida. Não sabe nada do que é ser adulto, gente grande.

É preciso dar esse desconto às atitudes dos brasileiros nas redes sociais. Mas é preciso, também, dizer claramente: com esse acúmulo de leituras equivocadas do que acontece no País, o brasileiro está se portando de um modo ridículo.

O brasileiro conseguiu transformar a indignação, que era uma arma, numa fantasia ridícula.

E não entendeu até agora por que o resto do mundo olha com admiração o que acontece aqui, enquanto quem está aqui é convencido de que está tudo errado, tudo perdido.

Quem está aqui, olha a floresta de dentro e só vê cipó. Quem vê a floresta do alto, quem vê de fora, quem enxerga o processo em perspectiva histórica e não histriônica, e não no vai-da-valsa dos comentadores: esse, sim, vê um Brasil novo.

No espelho que reflete a imagem desse jovem de 25 anos, que é o Brasil, há quem só veja espinhas, há quem veja o temor pelo futuro incerto.

E há quem veja o quanto ele cresceu, e se preocupe em oferecer a ele uma boa formação, que se ocupe de participar da construção do seu futuro, para além do medo e da intolerância com seus modos de jovem ainda cheio de defeitos.

Esse jovem Brasil não é um impávido colosso que acabou de acordar. É, antes, um jovem tentando encontrar seu caminho, com todas as dores da juventude que enfrenta a vida adulta.

Caio Leonardo

*ilustração: montagem obtida da página no Facebook de Leandro Rodrigues, em cima de foto de “atrizes indignadas” que circula pelas redes sociais

36 Views of the Moon & Venus on September 8, 2013

Moon&Venus

O crescente tira a estrela,
na varanda,
pra uma dança.
Ela se recolhe,
Ele avança.
E eu aflito, me pergunto:
Será que a mão dele
a alcança?

Caio Leonardo, 8 de setembro de 2013
Imagem: desenho usando ZenBrush by Caio Leonardo, aprés la Lune et Venus d’aujourd’hui.